Vivaldo Conceição e seu sax tenor
VIVALDO LADISLAU DA CONCEIÇÃO
Nascido em Salvador, em 28 de agosto de 1926. Filho de José Ladislau dos Reis e Zulmira Maria da Conceição, herdou do pai o nome Ladislau e da mãe o nome Conceição.
Em 05 abril de 1936, portanto com 10 anos de idade, o menino Vivaldo Conceição ingressa no Colégio dos Órfãos de São Joaquim, onde passa a receber sua educação formal.
Na Casa Pia e Colégio dos Órfãos, além das primeiras letras, Vivaldo faz o curso complementar, aprende música e marcenaria.
Afortunadamente, o Colégio, que já possuía notável tradição na área da prática musical, era celeiro de mestres, como Guilherme Teodoro de Melo e Manoel Zeferino dos Santos.
Ali, seguindo sua inclinação natural, Vivaldo logo estaria executando diversos instrumentos musicais, como clarineta, saxofone, piston, trombone, flauta, flautim e requinta, tornando-se inclusive, aos 13 anos de idade, solista da banda de música do Colégio, da qual ainda viria a ser contra-mestre.
Mais tarde, como aluno do maestro Zeferino, aprende a tocar violoncelo, indo estagiar na orquestra do Padre Luiz Gonzaga Mariz.
Concluídos os estudos no Colégio dos Órfãos de São Joaquim, o jovem músico é contratado pelo empresário Graciliano Barbosa, passando a integrar um conjunto musical que tocava em festas, bailes e boates.
Esse ambiente de música dançante seria um dos diversificados campos de trabalho pelos quais o notável instrumentista iria transitar, com toda sua versatilidade. Como exemplo, Vivaldo Conceição tocou durante muito tempo sua clarineta nas muitas novenas e festas religiosas realizadas em Salvador e na cidade de Santo Amaro da Purificação.
Com a criação dos Seminários Livres de Música, em 1954, Vivaldo é convidado pelo maestro Koellreutter a integrar a então nascente Orquestra Sinfônica da Universidade Federal da Bahia, na qual alternava entre o cello, o saxofone ou a clarineta, de acordo com as exigências do repertório a ser executado.
Alguns dos muitos lugares em que Vivaldo exerceu atividades musicais: Rumba Dancing, Clube Baiano de Tênis, Associação Atlética da Bahia, Iate Clube, Fantoches da Euterpe, Cruz Vermelha, Tabaris, Gafieira do Clube da Guarda Civil (Associação dos Guardas Civis), na Baixa dos Sapateiros, Circo Troca de Segredos.
O maestro organizou ainda a banda de música mirim da Escola Parque, além de atuar no projeto educativo desenvolvido com jovens no Parque da Cidade pelo NEASC, entre 1979 e 1981, sempre difundindo a atividade musical através da prática dos instrumentos de sopro.
Em 1957, fundou sua primeira Orquestra.
Nas décadas de 1950 (segunda metade) e 1960, o Maestro Vivaldo Conceição era uma figura célebre do Tabaris, com a sua orquestra, executando danças de salão, principalmente boleros, sambas e rumbas, tangos e fox-trotes, muito em voga na época.
"Ouvia-se muito boleros como Perfídia e Besame mucho, as músicas de Lamartine Babo, Lupicínio Rodrigues e Dorival Caymmi, as canções românticas de Bienvenido Granda, e as pessoas dançavam bastante tudo isso" (depoimento).
Em 1964, encontramos registro do maestro Vivaldo acompanhado do músico Lindembergue Cardoso, (eram colegas no quarteto de saxofones da UFBa). Lindembergue começa neste ano a sua trajetória na orquestra do Tabaris, o mais famoso cabaré de Salvador.
O Tabaris, que foi cassino, cabaré, night dance, boate, dancing, passando por diversas fases desde 1934, encerrou suas atividades no ano de 1968. A casa de espetáculos, que não raro, contara com a presença de orquestras nacionais e até internacionais, animando suas noitadas, já não tinha nenhuma orquestra e nem cantores, já que a música ao vivo fora substituída por uma jukebox movida a fichas.
Em 1968, Vivaldo Conceição fundava a segunda Orquestra, que animaria os bailes de fim de semana na casa de espetáculos de Sandoval Caldas.
Em 1975, inspirando-se na atmosfera reluzente dos ambientes noturnos da Bahia dos "anos dourados", o diretor teatral Manuel Lopes Pontes resolve montar a primeiro encenação sobre o lugar, o espetáculo Tabaris - texto de João Ubaldo Ribeiro e música de Vevé Calasans -, com a imprescindível participação da orquestra do maestro Vivaldo Conceição, sem dúvida uma figura célebre daquela casa noturna. Resultado: sucesso de público. O espetáculo produzia filas imensas no Teatro Vila Velha, que esteve sempre lotado.
Em 1979, doente, vítima das tantas injustiças e decepções que sofrem sempre os gênios, particularmente os de etnia negra, Vivaldo Conceição nem pôde assistir ao show que foi realizado no TCA em sua homenagem, por alguns artistas da Bahia encabeçados por Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gilberto Gil.
A cantora baiana Claudete Macedo, grande expressão da música popular, com trajetória pelas emissoras de rádio e como crooner de grandes orquestras que marcaram época na Bahia, integrou a Orquestra de Vivaldo Conceição. É ela quem nos dá este contundente depoimento, bem a propósito:
..."Falta de reconhecimento, racismo, preconceito e injustiça. Às vezes, nós, artistas somos esquecidos e só relembrados quando existe algum interesse"...
Mas no início da década de 1980, Vivaldo voltaria a comandar uma orquestra integrada por 18 músicos, cuja estréia se deu no 2º Festival de Música Instrumental da Bahia (Teatro Castro Alves, 19 a 22 de novembro de 1981) - destaque para Vivaldo Conceição e sua Orquestra.
Nascido em Salvador, em 28 de agosto de 1926. Filho de José Ladislau dos Reis e Zulmira Maria da Conceição, herdou do pai o nome Ladislau e da mãe o nome Conceição.
Em 05 abril de 1936, portanto com 10 anos de idade, o menino Vivaldo Conceição ingressa no Colégio dos Órfãos de São Joaquim, onde passa a receber sua educação formal.
Na Casa Pia e Colégio dos Órfãos, além das primeiras letras, Vivaldo faz o curso complementar, aprende música e marcenaria.
Afortunadamente, o Colégio, que já possuía notável tradição na área da prática musical, era celeiro de mestres, como Guilherme Teodoro de Melo e Manoel Zeferino dos Santos.
Ali, seguindo sua inclinação natural, Vivaldo logo estaria executando diversos instrumentos musicais, como clarineta, saxofone, piston, trombone, flauta, flautim e requinta, tornando-se inclusive, aos 13 anos de idade, solista da banda de música do Colégio, da qual ainda viria a ser contra-mestre.
Mais tarde, como aluno do maestro Zeferino, aprende a tocar violoncelo, indo estagiar na orquestra do Padre Luiz Gonzaga Mariz.
Concluídos os estudos no Colégio dos Órfãos de São Joaquim, o jovem músico é contratado pelo empresário Graciliano Barbosa, passando a integrar um conjunto musical que tocava em festas, bailes e boates.
Esse ambiente de música dançante seria um dos diversificados campos de trabalho pelos quais o notável instrumentista iria transitar, com toda sua versatilidade. Como exemplo, Vivaldo Conceição tocou durante muito tempo sua clarineta nas muitas novenas e festas religiosas realizadas em Salvador e na cidade de Santo Amaro da Purificação.
Com a criação dos Seminários Livres de Música, em 1954, Vivaldo é convidado pelo maestro Koellreutter a integrar a então nascente Orquestra Sinfônica da Universidade Federal da Bahia, na qual alternava entre o cello, o saxofone ou a clarineta, de acordo com as exigências do repertório a ser executado.
Alguns dos muitos lugares em que Vivaldo exerceu atividades musicais: Rumba Dancing, Clube Baiano de Tênis, Associação Atlética da Bahia, Iate Clube, Fantoches da Euterpe, Cruz Vermelha, Tabaris, Gafieira do Clube da Guarda Civil (Associação dos Guardas Civis), na Baixa dos Sapateiros, Circo Troca de Segredos.
O maestro organizou ainda a banda de música mirim da Escola Parque, além de atuar no projeto educativo desenvolvido com jovens no Parque da Cidade pelo NEASC, entre 1979 e 1981, sempre difundindo a atividade musical através da prática dos instrumentos de sopro.
Em 1957, fundou sua primeira Orquestra.
Nas décadas de 1950 (segunda metade) e 1960, o Maestro Vivaldo Conceição era uma figura célebre do Tabaris, com a sua orquestra, executando danças de salão, principalmente boleros, sambas e rumbas, tangos e fox-trotes, muito em voga na época.
"Ouvia-se muito boleros como Perfídia e Besame mucho, as músicas de Lamartine Babo, Lupicínio Rodrigues e Dorival Caymmi, as canções românticas de Bienvenido Granda, e as pessoas dançavam bastante tudo isso" (depoimento).
Em 1964, encontramos registro do maestro Vivaldo acompanhado do músico Lindembergue Cardoso, (eram colegas no quarteto de saxofones da UFBa). Lindembergue começa neste ano a sua trajetória na orquestra do Tabaris, o mais famoso cabaré de Salvador.
O Tabaris, que foi cassino, cabaré, night dance, boate, dancing, passando por diversas fases desde 1934, encerrou suas atividades no ano de 1968. A casa de espetáculos, que não raro, contara com a presença de orquestras nacionais e até internacionais, animando suas noitadas, já não tinha nenhuma orquestra e nem cantores, já que a música ao vivo fora substituída por uma jukebox movida a fichas.
Em 1968, Vivaldo Conceição fundava a segunda Orquestra, que animaria os bailes de fim de semana na casa de espetáculos de Sandoval Caldas.
Em 1975, inspirando-se na atmosfera reluzente dos ambientes noturnos da Bahia dos "anos dourados", o diretor teatral Manuel Lopes Pontes resolve montar a primeiro encenação sobre o lugar, o espetáculo Tabaris - texto de João Ubaldo Ribeiro e música de Vevé Calasans -, com a imprescindível participação da orquestra do maestro Vivaldo Conceição, sem dúvida uma figura célebre daquela casa noturna. Resultado: sucesso de público. O espetáculo produzia filas imensas no Teatro Vila Velha, que esteve sempre lotado.
Em 1979, doente, vítima das tantas injustiças e decepções que sofrem sempre os gênios, particularmente os de etnia negra, Vivaldo Conceição nem pôde assistir ao show que foi realizado no TCA em sua homenagem, por alguns artistas da Bahia encabeçados por Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gilberto Gil.
A cantora baiana Claudete Macedo, grande expressão da música popular, com trajetória pelas emissoras de rádio e como crooner de grandes orquestras que marcaram época na Bahia, integrou a Orquestra de Vivaldo Conceição. É ela quem nos dá este contundente depoimento, bem a propósito:
..."Falta de reconhecimento, racismo, preconceito e injustiça. Às vezes, nós, artistas somos esquecidos e só relembrados quando existe algum interesse"...
Mas no início da década de 1980, Vivaldo voltaria a comandar uma orquestra integrada por 18 músicos, cuja estréia se deu no 2º Festival de Música Instrumental da Bahia (Teatro Castro Alves, 19 a 22 de novembro de 1981) - destaque para Vivaldo Conceição e sua Orquestra.
1981, 19 a 22 de Novembro -
Programa do 2º Festival Instrumental da Bahia -
Destaque para Vivaldo Conceição e sua Orquestra
Programa do 2º Festival Instrumental da Bahia -
Destaque para Vivaldo Conceição e sua Orquestra
Circo Troca de Segredos, lhe proporcionaria o contato mais direto com músicos de geração mais jovem, - instrumentistas e cantores, a exemplo de Fred Dantas, Paulo Primmo, Paulinho Andrade, Moisés Gabrielli, Veléu Cerqueira e Margareth Menezes (1983), que se tornavam seus admiradores diretos, transformando sua obra em semente de novos projetos, como a Oficina de Frevos e Dobrados e a Orquestra Fred Dantas, criada em janeiro de 1990.
Aliás, a casa de Vivaldo Conceição na Rua do Carmo foi o berço da atividade musical da Sociedade Musical Oficina de Frevos e Dobrados, ali fundada em 12/11/1982.
Consta que o Maestro Vivaldo possuía diversas composições, embora não as tenha resgistrado em disco, limitando-se a trabalhar com outros compositores e cantores.
A última referência que temos do maestro Vivaldo é a participação, em 2002, no disco Larrálibus Escumálicus Cujolélibus de Tuzé de Abreu, tocando seu sax-tenor na 18ª faixa: Meteorango.
(http://cliquemusic.uol.com.br/discos/ver/tuze-de-abreu/larralibus-escumalicus-cujolelibus)
Vivaldo teve quatro filhos, com D. Marilúcia Ferreira Conceição, dos quais dois integraram a sua segunda Orquestra, tocando saxofone e trombone. Mais adiante neste texto, há referências sobra a atividade musical dos mesmos.
A PERSONALIDADE DO MAESTRO VIVALDO
Eis um pequeno depoimento de um músico erudito com incursões profundas nas raízes populares, o qual retrata um pouco da personalidade e do caráter do maestro Vivaldo Conceição:
[...] "Vivaldo, cuja trajetória acompanhei de perto, foi uma figura extraordinária. Tinha uma ética profundamente arraigada, uma ética do companheirismo e da camaradagem, que não dispensava a pilhéria e a galhofa, e fez um percurso surpreendente. Começou no Colégio dos Órfãos de São Joaquim e na maturidade não somente ocupava o cargo de violoncelista da Orquestra Sinfônica da UFBa, tendo seguido de perto todo o movimento cultural do que se costuma chamar de 'época de ouro' da música erudita na Bahia, como havia se estabelecido como uma das referências mais respeitadas da noite baiana. A maneira como Vivaldo costurou esses dois universos foi uma lição para membros dos dois lados. Dentro dessa interface entre erudito e popular" [...]
(Jornal A Tarde - Coluna Música Erudita - Autor - Paulo Costa Lima)
Numa crônica dedicada a Vivaldo Conceição, Paulo Costa Lima narra um episódio ocorrido por volta de 1974, quando da temporada em Salvador do maestro americano George Byrd. Paulo, na época novato entre os violoncelistas na orquestra sinfônica da Universidade, conta um detalhe desconhecido sobre a execução do Magnificat de J. S. Bach, na qual a partitura do violoncelo, por descuido não fora colocada na estante , após uma situação de nervosismo gerado no naipe pela súbita febre acometida ao spalla Piero Bastianelli, o que fez com que o seu substituto imediato, Walter Smetak, também ficasse um tanto agitado. No momento em que a execução iria começar, Paulo teve de correr até o carro, numa peripécia cinematográfica, mas voltou frustrado ao constatar que havia deixado a parte do cello em casa...
[...] "Meu adorável companheiro de estante, quem era? Era o inesquecível Vivaldo Ladislau Conceição, que além de violoncelista era clarinetista, saxofonista, trombonista, também arranhando no violino, piano, violão e o que mais lhe caísse nas mãos; um grande líder de orquestras populares em Salvador...
Moral da história: toda vez que lembro do episódio, o que mais me enternece é a postura de Vivaldo. Não disse uma só palavra de repreensão ou de desagrado, e tinha todo o direito de fazê-lo. Afinal, eu era apenas um novato, havia descuidado da coisa, colocando-nos numa saia justa.
Mas qual nada, ele operava em outra onda. Sorriu o tempo todo, foi cúmplice em todos os momentos e não disse absolutamente nada sobre o assunto. Foi a melhor lição de ética que já tive. Existe alma mais pura e amiga no céu?" [...]
Leia a íntegra da crônica de Paulo Costa Lima em:
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1498968-EI8214,00-Caso+de+Orquestra+II+Vivaldo+Ladislau+Conceicao.html
"Com um pouco mais de aperfeiçoamento pode tocar em qualquer auditório, por mais exigente.
Nascem em 28 de agosto de 1926 na cidade do Salvador-BA. Filho de José Ladislau dos Reis e D. Zulmira Maria da Conceição.
É casado com D. Marilucia Ferreira Conceição e tem quatro filhos (Vivaldo, Augusto, Luzania e Luciano).
Sua avó, D. maria Lucia Conceição foi quem tomou as primeiras providências para interná-lo no Colégio São Joaquim.
Justamente no dia 05 de abril de 1936 foi admitido como aluno e permaneceu até 9 de janeiro de 1946 quando sua genitora o retirou da Casa Pia, por ter completado o tempo regulamentar.
Fez o curso primário, complementar, musical e aprendeu o ofício de marceneiro.
Logo ao ingressar no orfanato, o prof. Zeferino descobriu o talento musical desse jovem de 10 anos e imediatamente começou a ensinar-lhe a bela arte.
Em pouco tempo já tocava vários instrumentos: saxofone, piston, trombone, flauta, flautim, clarineta e requinta.
Aos 13 anos era o solista da banda de música, tocando na requinta peças difíceis de execução e que chamava a atenção de vários profissionais, que ficavam admirados com a perfeição do toque do jovem garoto.
O Zeferino também logo o escolheu para aprender o violoncelo, a fim de que o Vivaldo participasse da orquestra sinfônica da instituição.
Foto: reprodução do livro Meu Colégio, Minha Vida de Osmar Pinheiro, 1986
(clique para ampliar)
Foi um dos meninos que estagiaram na orquestra sinfônica do Padre Mariz e todos enalteciam o Vivaldo pelas suas qualidades artísticas.
O prof. Manoel Zeferino o escolheu para ser o contra-mestre da banda de música do colégio e assim o Vivaldo se tornou também um bom maestro.
Ao deixar o São Joaquim não foi difícil encontrar emprego.
Logo é contratado pelo empresário Graciliano Barbosa para compor um conjunto popular, que tocava em festas, bailes e boates.
Sempre teve a vida toda entregue à arte musical. Muito versátil. Toca bem o clássico, o sacro e o popular.
Na igreja passou a ser o clarinetista preferido para as novenas de N. S. da Conceição da Praia, Senhor do Bonfim, Santo Amaro e de outras festas religiosas de Salvador.
Quem conhece a partitura das novenas do Senhor do Bonfim sabe perfeitamente a dificuldade de execução da parte da clarineta.
O Vivaldo substituiu naquela novena outro grande músico da Bahia, também ex-aluno do São Joaquim, que era o prof. Oscar de Almeida.
Em 1954 quando se instalara em Salvador, os Seminários Livres de Música da Bahia, fora o Vivaldo apresentado ao maestro Koellreutter, tendo este admirado o talento musical do jovem artista, convidando-o imediatamente para fazer parte da orquestra sinfônica da Universidade Federal da Bahia, onde até hoje continua como seu integrante.
Nos Seminários de Música passou a se aperfeiçoar no violoncelo com o prof. Smetak e participou da orquestra da câmara, trios, quartetos, além de outros conjuntos.
Mesmo na orquestra sinfônica da Universidade, onde tocava o celo, o Vivaldo também executava o saxofone, quando a orquestra apresentava peças especiais e que exigiam solo daquele instrumento.
Sempre foi muito aplaudido.
Era de uma raridade incrível, quer executando peças clássicas, populares ou sacras.
Certa feita, o orquestra sinfônica ensaiava a "Rapsódia em Blue", que inicia com um solo de clarineta, numa escala ascendente, culminando-a num glissando.
Acontece que o maestro, um americano convidado pela universidade para reger aquele concerto aqui em Salvador, tentara várias vezes ouvir aquela escala, certamente no estilo jazzista, porém o clarinetista não dava o efeito que o regente desejava.
No intervalo do ensaio, o Vivaldo pega o seu clarinete e executa a escala daquele trecho musical.
O maestro que encontrava-se um pouco afastado, volta correndo e diz: é isso que eu quero!
Foi sempre o músico preferido dos saudosos maestros Antonio Moraes e Carlos Lacerda.
Todas as programações que aqueles maestros organizavam, o Vivaldo era um dos primeiros músicos a ser convidado e tocava o violoncelo, ora a clarineta e outras vezes o saxofone.
Durante alguns anos foi diretor das orquestras Brazilian Boys, Marilda e sua Orquestra, Orquestra Itapoan e outros conjuntos musicais.
Formou a sua própria orquestra (Vivaldo e sua Orquestra) em 1957. Depois renovou o conjunto com outros músicos, em 1968. E novamente aí está com uma grande orquestra, onde dois de seus filhos a integram, tocando saxofone e trombone.
Fez sucesso em quase todos os clubes desta capital, tocando as festas de solenidades de formatura, bailes carnavalescos, acontecimentos comemorativos e outros.
Por longo tempo a sua orquestra foi a atração do Quiosque de Sandoval e do Circo Troca de Segredos; ainda nos carnavais do Baiano de Tênis, Associação Atlética, Iatch Clube, Fantoches, Cruz Vermelha e outros.
É professor de música do Estado, exercendo a função no Educandário Carneiro Ribeiro, onde chegou a fundar uma banda de música mista, com os estudantes daquela escola.
Mas este grande músico, que tinha tudo para tornar-se uma criatura independente e com uma situação financeira boa, tem passado momentos difíceis em sua vida, chegando mesmo a afirmar que já perdeu a fé.
Ainda no ano de 1979 quando esteve doente, foi necessário que alguns artistas baianos que muito o estimam, programassem um 'show" em seu benefício, a fim de ampará-lo na sua enfermidade.
Ele não pôde comparecer ao Teatro Castro Alves, mas lá estavam os admiradores de sua arte, a ouvir o Caetano Veloso, o Gil, a Maria Bethânia, além de outros artistas locais, que homenagearam o maestro Vivaldo.
Não temos dúvidas de que é no momento o melhor maestro popular da Bahia,consagrado e querido por todos os seus companheiros de classe.
Continua adoentado e na entrevista que lhe fiz em junho de 1985, na sua residência, quis ele expressar, mas sem poder, a ingratidão que recebera daqueles para os quais tanto servira.
Sua esposa, porém, completou as palavras do maestro:
No Quiosque do Sandoval ele foi injustiçado, mas pago e adoeceu. No Troca de Segredos chegou a tocar na areia, levantou o Circo e nunca mais apareceram.
Dizem que ele é patrimônio nacional, mas o governo nem sabe que ele existe".
Assim é a vida do artista..."
Fonte:
Osmar Pinheiro
Meu Colégio, Minha Vida. 1986
Págs. 65-68
[A citação musical - áudio e o excerto da partitura, são nosso]
(Um capítulo à parte para falar dos filhos do Maestro Vivaldo Conceição e suas atividades musicais)
VIVALDO DA CONCEIÇÃO FILHO - RAYALA
Compositor, instrumentista (cavaquinho, sax tenor) traz na sua bagagem a participação nos grupos Samba Fama e Samba de Roda Urbano, além de tocar na banda que acompanhou Lazzo e Gerônimo. Dirigiu também o grupo Auêto, com a predominância dos estilos fundo de quintal, partido alto, samba reggae, samba rock, chula e ijexá, realizando seguidas temporadas na Senzala do Barro Preto, sede do bloco Ilê Aiyê, na Liberdade.
Grupo Auêto, de Vivaldo Conceição Filho - Rayala
Como compositor, encontramos produções suas registradas:
- Sapatea - em É de Remexer, É de Rebolar
- Tô na Rua - em Me Chama
- Samba da Lua - em Mãe de Samba
- Pererê - em Beat Beleza
- Bug, Bug, Bye, Bye - em Beat Beleza
- A Galera (Augusto Conceição/F. Alcantara/Elivandro Cuca/Rayala/Sá Trindade) em O Diário de Claudinha (Babado Novo)
- Tô na Rua - em Me Chama
- Samba da Lua - em Mãe de Samba
- Pererê - em Beat Beleza
- Bug, Bug, Bye, Bye - em Beat Beleza
- A Galera (Augusto Conceição/F. Alcantara/Elivandro Cuca/Rayala/Sá Trindade) em O Diário de Claudinha (Babado Novo)
Samba de Roda Urbano
Rayala, Augusto Conceição e o grupo Samba Fama
"O Samba Fama nasceu em 1979 no Calabar com Robson e Pretinho, que tocavam samba de roda...
Os ensaios eram feitos no Beco do Pilão Sem Tampa em um carramanchão feito de bambu e palhas de coqueiro. Rayala e Augusto, filhos do Maestro Vivaldo Conceição, ajudaram o grupo a aprimorar a técnica musical. O Samba Fama cresceu ainda mais, envolveu a família de Jajau e Totinha e passou a tocar no Alto do Gantois. Robson conta que nos ensaios do Gantois nasceram algumas músicas do axé music, como A Roda, gravada por Sarajane."
Uma das evidências do envolvimento dos meninos do Samba Fama com a comunidade do Alto do Gantois é a composição de Augusto Conceição em homenagem à Mãe Menininha do Gantois:
Minha Mãe Menininha
(de Augusto Conceição/Grupo Samba Fama)
Minha Mãe Menininha
Menininha do Gantois
Abençoe o Samba Fama
Pra no São João brincar (bis)
Nos conceda água benta
E a benção de Mãe Oxum
Livrai-nos de todas as brigas
Com a lança de Ogum
Olha só quem vem chegando,
Todos num só coração
Somos nós Samba Fama
Cantando e dançando
Arrastando o povão
Na casa de dona Dego
E de seu Ademário, também
Com a presença dos seus filhos
Cantando e sambando como ninguém
Vestidos de azul e branco
Saindo do Gantois
O azul é de Ogum guerreiro
E o branco alvinho do Pai Oxalá.
(de Augusto Conceição/Grupo Samba Fama)
Minha Mãe Menininha
Menininha do Gantois
Abençoe o Samba Fama
Pra no São João brincar (bis)
Nos conceda água benta
E a benção de Mãe Oxum
Livrai-nos de todas as brigas
Com a lança de Ogum
Olha só quem vem chegando,
Todos num só coração
Somos nós Samba Fama
Cantando e dançando
Arrastando o povão
Na casa de dona Dego
E de seu Ademário, também
Com a presença dos seus filhos
Cantando e sambando como ninguém
Vestidos de azul e branco
Saindo do Gantois
O azul é de Ogum guerreiro
E o branco alvinho do Pai Oxalá.
(Mãe Menininha do Gantois: uma biografia. Por Cida Nóbrega, Regina Echeverria. pg. 285)
AUGUSTO CONCEIÇÃO
Augusto participou da primeira formação da banda e do primeiro LP da Timbalada, (1993) como instrumentista, (trombone, percussão de boca e de cabeça) vocalista, compositor e arranjador, junto com Carlinhos Brown.
Informações extraídas da ficha técnica do disco revelam a importante participação deste rebento do Maestro Vivaldo:
Timbalada - 1993
- Mulatê do Bundê (Vocal. Arranjo: Augusto Conceição/Carlinhos Brown)
- Tá na Mulher (Vocal)
- Anô Ayê (Trombone)
- 300 GT Vinheta (Compositor, junto com Carlinhos Brown e Cícero Menezes, percussão de boca e de cabeça)
- Canto pro Mar (Trombone)
- U-Maracá (Trombone)
- Pot-pourrit: Do Itaim para o Candeal/Armação sem Lente (Trombone)
Choveu Sorvete, foi gravada com ele nos vocais.
Samba da Lua é de sua autoria, em parceria com Ninha Brito e Melodia Costa.
A faixa Anágua (disco Mãe de Samba) é na voz de Augusto Conceição.
Ainda tocando o trombone, acompanhou a Timbalada até o disco Mãe de Samba (1997).
Depois desse período, Augusto Conceição passa a atuar mais como compositor e suas músicas são gravadas por artistas de destaque.
Augusto Conceição atuou também como trombonista na primeira formação do grupo Tribahia, (idealizado por Ninha, também remanescente da Timbalada).
Da esquerda para a direita:
Fabio Nolasko, Cumpadre Washington e Augusto Conceição
Fabio Nolasko, Cumpadre Washington e Augusto Conceição
Composições de Augusto Conceição:
Timbalada:
Timbalada - 1993
- Mulatê do Bundê (Vocal. Arranjo: Augusto Conceição/Carlinhos Brown)
- Tá na Mulher (Vocal)
- Anô Ayê (Trombone)
- 300 GT Vinheta (Compositor, junto com Carlinhos Brown e Cícero Menezes, percussão de boca e de cabeça)
- Canto pro Mar (Trombone)
- U-Maracá (Trombone)
- Pot-pourrit: Do Itaim para o Candeal/Armação sem Lente (Trombone)
...............
- Samba de Lua (Ninha Brito/Augusto Conceição/Melodia Costa)
- Mãe Oyá (D.P./Arranjo e Adapt.: Carlinos Brown/Mestre Pintado do Bongô/Augusto Conceição)
Motumbá:
- Pra Balançar de Novo (Augusto Conceição/Elivandro Cuca)
- Meu Tambor (Alexandre Guedes/Augusto Conceição)- A Galera (Augusto Conceição/F. Alcantara/Elivandro Cuca/Rayala/Sá Trindade)
Ara Ketu:
- Pavê (Alexandre Guedes/Augusto Conceição/Elivandro Cuca/Fábio Alcântara)
- A Pele (Augusto Conceição/Fábio Alcântara/Duller)
African Bahia:
- No Chão (Augusto Conceição)
Margareth Menezes:
- Rasta Man
Ivete Sangalo:
CD Beat Beleza (Ivete Sangalo - 2000)
- Pererê (Augusto Conceição/Chiclete)
- Bug, Bug, Bye, Bye (Augusto Conceição/Chiclete/Rayala)
Trem de Pouso (Ninha):
- Nas Arábias (Fabinho/Augusto Conceição)
Cheiro de Amor:
(Me Chama, Banda Cheiro de Amor / Carla Visi (1998))
- Tô na Rua (Augusto Conceição)
Beto Jamaica:
É de Remexer, É de Rebolar, É o Tchan / Beto Jamaica (2000)
- Sapatea (Augusto Conceição/Ricardo Cruz)
Preta Gil (c/Marcio Guedes):
- Eu e Você, Você e Eu (Augusto Conceição, Fabio Alcântara e Elivandro Cuca)
Cláudia Leitte: (Babado Novo):
- Piriripiti (Augusto Conceição/Fábio Alcântara/Elivandro Cuca/Pio Medrado)
Timbalada, início da década de 90, com Augusto Conceição (no Trombone)
Foto: Correio da Bahia
"Augusto Conceição, músico e compositor, filho do maestro Vivaldo Conceição, decidiu prestar uma homenagem no dia 28/08/2014 (quinta-feira), ao seu pai, que se estivesse vivo estaria completando 88 anos. Este evento está sendo organizado por ele mesmo, sem contar com apoio dos órgãos oficiais de cultura, ou de empresas privadas.
O maestro Vivaldo Conceição, conhecido como "luminoso diamante negro da Bahia" foi considerado o único maestro negro da Bahia que conseguiu tocar o repertório do erudito ao popular; onde também prestou serviços à cultura e a música da Bahia.
Estão confirmadas as presenças dos artistas amigos e fãs do maestro: maestro Fred Dantas, maestro Letieres Leite, Raiala, Gerônimo, Márcia Short, Elpidio Bastos, Edu Casanova, Toni Duarte, João Teoria, Vanessa Melo e Felipe Guedes (neto do maestro Vivaldo Conceição), Luciano Silva, Eduardo Duller, Lazzo Matumbi, Samir, Fábio Alcântara, Alexandre Guedes, Wellington Nagô, entre outros..."
Serviço:
"88 Anos do Luminoso Diamante Negro"
Homenagem ao Maestro Vivaldo Conceição
Local:
Casa do Maestro Vivaldo Conceição
Data:
28/08/2014 (quinta-feira)
Horário:
A partir das 17:00 às 22:00Hs.
Rua Mestre Pastinha, 365 E - Federação
Produção: Augusto Conceição & Mauro Rodrigues
Fontes consultadas:
- Osmar Pinheiro: Meu Colégio, Minha Vida. 1986. Págs. 65-68
- Santana, Amandina e Santos, Milta: Talentos Musicais da Bahia; dos inéditos aos inesquecíveis).
- Matérias do jornal Correio da Bahia
- Arquivos da internet:
http://www.paulolima.ufba.br/pop_sobre_17.html
http://www.irohin.org.br/onl/new.php?sec=news&id=2533
http://www.viamagia.org/federacao/conhecimento_ideias_sambaepagode.php
http://www.allbrazilianmusic.com/fonogramas/pesquisaporautor/autor:12659/nome:Rayala
http://www.allbrazilianmusic.com/fonogramas/pesquisaporautor/autor:12659/nome:Augusto%20Conceição
http://www.aldeianago.com.br/component/option,com_events/task,view_detail/agid,5579/year,2008/month,11/day,11/Itemid,40/catids,39/
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1498968-EI8214,00-Caso+de+Orquestra+II+Vivaldo+Ladislau+Conceicao.html
importantissimo esta reportagem..um nome sempre a ser lembrado e reverenciado..viva sr. Vivaldo a quem tive q honra de assisti-lo no Varandá de Sandoval começo dos anos 70..parabens sr.Roberto Luis
ResponderExcluirLetieres Leite
Letieres,
ResponderExcluirobrigado pela interação.
Você, que também se tornou um ícone da música baiana, com seu brilhante trabalho no naipe de madeiras, com certeza bebeu dessa fonte nativa, de talento musical. Tive oportunidade de ver sua trajetória desde o começo, quando nos esbarrávamos nos corredores da Escola de Música da UFBa. Hoje, é uma realidade o seu sucesso como instrumentista. Parabéns pelos seus trabalhos instrumentais, que valorizam a música baiana (e popular).
Quando tiver oportunidade, poderia contribuir mais, com informações/relatos da sua vivência com o maestro e os seus filhos músicos. Para enriquecer o universo de conhecimentos sobre mais um grande artista baiano quase/anônimo.
@braços, sucessos!
Roberto Luis.
Esses Robertinhos e Castros... E Biras e miras e memórias de Reis e Letieres de Leite... Pensem no som desse Nescal...... Antonio Godi.
ResponderExcluirA.J.V.S.Godi, espirito brilhante sempre
Excluirpresente passado futuro.