NELSON BABALAÔ

Nelson Silvério de Santana
20/06/1922, Salvador - 04/12/1993, Salvador.

Neto de Xica Xangô de Ouro, Nelson nasceu no bairro do Pau Miúdo, em Salvador-Bahia.
A composição intitulada Babalaô, com a qual venceu o Festival de Música Carnavalesca da Bahia em 1971, seria a origem do nome artístico pelo qual ficou sendo definitivamente conhecido. Antes assinou como Nelson Santana, um nome muito comum, para o perfil tão inusitado desse baiano, portador de muitas singularidades. Compositor de sambas, chegado a um samba-enredo, sapateiro por profissão, poeta e músico por vocação.
Apesar de pouco conhecido da maioria dos seus conterrâneos, Nelson Babalaô incentivou muita gente a ingressar na atividade musical e teve como frequentadores do seu espaço de criação (o Barraco, sua "tenda dos milagres", ateliê e palco) muitos artistas de reconhecido sucesso musical, como Alcione, Aparecida, Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Moreira da Silva, Roberto Ribeiro, entre outros. Gilberto Gil, Nelson Rufino, Ederaldo Gentil, Batatinha, Riachão, Firmino, Vadu da Ribeira, são alguns dos baianos que prestigiaram a tenda de Nelson Babalaô, assim como os muitos parceiros, entre os quais identificamos Paulinho Camafeu, Chocolate da Bahia, Israel Miranda, Jonas Madureira e principalmente o seu filho Nilsão, com quem compôs diversas músicas.
Nelson Babalaô produziu apenas dois compactos independentes e participou da coletânea Sambas de Roda da Bahia. É mais um representante da cultura baiana, à espera de maior reconhecimento pelo seu trabalho.

O mestre inspirou um cordel - Tenda de Sambista, escrito por João Rios, que descreve a personalidade, o 'modus operandi' e as estórias peculiares do Nelson Babalaô:
http://pt.calameo.com/read/000912829a98eb0868b22

Em sextilhas, João Rios vai logo "entregando" a natureza humana corrompida pelos vícios e defeitos sensuais, comuns ao boêmio:

"Seus vícios são cultivados
De maneira que bem quer
Tabagista, etilista, sambista
Mas... Quem não é?
Pra infernar Dona Lindaura
Ainda gosta de mulher"
Mas logo corrige a impressão negativa causada pela descrição dos hábitos mundanos, exaltando as qualidades espirituais do "biografado":

"Nelson malandro esperto
Muita gente assim o vê
mas basta conhecer mais de perto
para logo se desfazer
O Nelson é alma pura
Exemplo de criatura
Que o mundo precisa ter"

(Tenda de Sambista - A História de Nelson Babalaô
Autor - João Rios)
Texto da última capa:
"Tio Babalaô
Saravá!
Colaboração:
Moçada do Miudinho Samba
Bahia"

No dia 4 de dezembro de 1993, os baianos comemoravam o dia da festa de Santa Bárbara, dois dias depois da passagem do Dia do Samba. Nesta data, Nelson Babalaô dormiu e não mais acordou neste plano.

No ano em que completaria 90 anos de nascimento, sua família procura resgatar a memória e o acervo do artista popular, registrando uma série de depoimentos, em merecida homenagem. Recentemente, foi criado um blog na rede com o significativo nome de O Meu Barraco - Nelson Babalaô, 90 Anos!
http://omeubarraco.blogspot.com.br/


DISCOGRAFIA

Nelson Babalaô - Meu Barraco - Raízes Baianas - WR - 1007

FICHA TÉCNICA:
Coordenação de estúdio: Paulinho Camafeu
Arranjos: Nelson Babalaô / Da Velha
Violão: Da Velha
Cavaquinho: Nelson Babalaô
Tumba/Cuíca/Tamborim/Efeito Sonoro/Chocalho/Afoxê/Apito: Paulinho Camafeu
Atabaque: Charles Bahiano
Agogô: Manoel
Afoxê: João Carlos
Marcação: Panela
Côro: Nilsão / Arminda / Nelio Santana / Silvino / Nelia Santana
Téc. Gravação e Mixagem: Nestor D. Madrid
Direção de estúdio: Wesley Rangel
Produção: Nelson Babalaô

Gravado nos estúdios W.R. - Bahia

Infelizmente, não foi creditado o músico que tocou trombone na faixa 2, Lado 2.
 

FAIXAS:
LADO 1
1 - Meu Barraco (Nelson Babalaô / Tirço de Roma)
2 - Sete Andanças (Jonas Madureira / Nelson Babalaô / Arnaldo Neves)
LADO2
1 - Decepção de um Sambista (Paulinho Santiago / Nelson Babalaô)
2 - Carnaval na Lua (Nelson Babalaô / Nilsão / Israel Miranda)
Participação Especial: Nelio Santana


1976
LP ESTÁ TUDO BEM - CBS 137936
Walmir Lima

Faixa 2:
- Não Deixe Essa Noite Terminar (Chocolate do Mercado Modelo / Nelson Babalaô)
Faixa 5:
- Está Tudo Bem (Paulinho Camafeu / Nelson Babalaô)


1977
LP BARRACA DO CHOCOLATE - Som Livre 403.6122
Chocolate da Bahia

Faixa 3:
- Roda de Samba (Nelson Babalaô / Israel Miranda / Chocolate da Bahia)

Roda de Samba
Composição: Nelson Babalaô / Israel Miranda / Chocolate da Bahia
Interpretação: Chocolate da Bahia

Samba samba,
Sambadaba dabadabadá
Sambadá
Samba samba,
Sambadaba dabadabadá

Cheguei numa roda de samba, morena,
Diga quem estava lá
Cheguei numa roda de samba, morena,
Diga quem estava lá
A moçada do miudinho,
Botando pra quebrar
A moçada do miudinho, morena,
Botando pra quebrar
Mas hoje o samba é uma reza
Vamos saravá
Saravá Ogum, salve todos orixás 
Camafeu, Camafeu!

1978
LP CANTIGAS DE FÉ - RCA Victor 103.0269
Aparecida

Faixa 3:
- Dô Dô Rô (Jonas Madureira / Nelson Babalaô)

1981
LP SAMBAS DE RODA DE SALVADOR - Music Master/K-Tel 234 420639
Vários Artistas

Faixa 8:
- A Reza (Nelson Babalaô / Dom Ratinho)
    Intérpretes: Sarabanda
Faixa 9:
- Dona de Casa (D. Lindaura)
    Intérprete: Elane

Produção e pesquisa: Walmir Lima
Músicos: Exporta Samba (Betão, Beto Jards, Beijoca, Sergio, Joel, Giba e Pirulito) (Percussão), Ratinho (Cavaco) e Memere (Violão 7)


1989
LP SAMBA DE RODA - NA RODA DE SAMBA DA BAHIA - CID 90.082/6
Vários Artistas

Faixa 3:
- Santo Casamenteiro (Nelson Babalaô / Nilsão)
    Intérprete: Nilsão
Faixa 8:
- Vatapá Sem Dendê (Diomedes / Roque Ferreira / Nelson Babalaô)
    Intérprete: Diomedes
Faixa 9:
- Festa de Reis (Roque Ferreira)
    Intérprete: Nelson Babalaô

DEPOIMENTO SOBRE O PAGODE
Tecendo uma reflexão sobre o fenômeno do pagode e o aspecto da existência dos inúmeros grupos de pagode nos bairros periféricos de Salvador, e referindo-se também à declaração de Batatinha, para quem o samba tradicional e o pagode não tem distinção, pois "tudo é samba", a etnóloga Goli Guerreiro escreveu no livro A Trama dos Tambores:
[...] "O compositor e sapateiro Nelson babalaô compartilha dessa opinião. Para ele "tudo é a mesma coisa, a mesma cachaça com rótulo diferente. Essa polêmica entre samba e pagode não tem sentido, porque os dois sempre existiram, mas a cada tempo um aparece mais que o outro". Babalaô se refere à "febre nacional de pagode" que se reflete no mercado fonográfico" [...]
Goli Guerreiro, A Trama dos Tambores - . pg. 256. Publicado em 2000.

Note que essa fala de Nelson Babalaô é anterior mesmo ao surgimento ou ao sucesso meteórico dos grupos Gera Samba, Harmonia do Samba e É O Tchan! Esses grupos, e a explosão na mídia que produziram, traziam uma nova instrumentação e uma nova temática nas suas letras, depois do que a palavra "pagode" nunca mais teve a mesma conotação de antes, daquela época. (Nelson faleceu em 1993).

Referências:
SANTANA, Amandina A. Ribeiro de, SANTOS, Milta de Azevedo. Talentos Musicais da Bahia; dos inéditos aos inesquecíveis. Salvador: GBK, 1998.
Guerreiro, Goli. A Trama dos tambores: a música afro-pop de Salvador. São Paulo: Ed. 34, 2000.
Rios, João. Tenda de Sambista - A História de Nelson Babalaô. Cordel. Acessível no endereço eletrônico: http://pt.calameo.com/read/000912829a98eb0868b22
http://omeubarraco.blogspot.com.br/
http://www.memoriamusical.com.br/


Comentários

  1. Eternas saudades do grande mestre e guru de toda uma geração: Nelson Babalaô, o poeta, o filósofo, o sambista, o homem que não somente consertava os sapatos, mas a alma do seu povo. Um homem que tinha um olhar de sabedoria sobre o cotidiano popular. Hoje, aquele velho barraco deveria ter na sua fachada uma placa com a emblemática denominação: “Faculdade da Vida Nelson Babalaô”...
    (Elias Bispo)

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